27.5.09

# 164 ++CAYCE POLLARD coletivodeartecomputacional;

Cada dia nos traz, na ordem da confiança e da esperança depositadas, com raras exceções, generosamente demais nos seres, uma decepção nova que é preciso ter a coragem de admitir, ainda que fosse – por medida de higiene mental – para debitá-la na conta horrivelmente devedora da vida. Não tinha liberdade Duchamp de abandonar a partida que jogava, à vizinhança da guerra, por uma partida interminável de xadrez, que talvez dê uma idéia curiosa de uma inteligência contrária a servir mas também – sempre esse execrável Harrar – parecendo pesadamente afetada de ceticismo, na medida que se recusa a dizer por quê. Ainda menos convém perdoarmos ao sr. Ribemont-Dessaignes dar como sequência ao Imperador da China uma série de odiosos romancinhos de tipo policial, mesmo assinados: Dessaignes, nas quais ordinárias publicações cinematográficas. Inquieta-me, enfim, pensar que Picabia poderia estar em dias de renunciar a uma atitude de provação e raiva quase puras, que às vezes achamos difícil conciliar com a nossa, mas que, pelo menos em poesia e em pintura, sempre nos pareceu defender-se admiravelmente: “Aplicar-se a seu trabalho, trazer aí o ofício sublime, aristocrático, que nunca impediu a inspiração poética, e que, só ele, permite a uma obra atravessar os séculos e permanecer jovem… é preciso prestar atenção… é preciso cerrar fileiras e não querer agir sem lealdade entre conscienciosos… é preciso favorecer o desabrochar do ideal”, etc. Até com pena da Bifur, onde estas linhas foram publicadas, quem fala assim é o Picabia que conhecemos?

A. Breton

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